quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Analisando a Ceia de Paulo.


ANALISANDO A CEIA DE PAULO
Por
Mário Marcos[1]


INTRODUÇÃO
           
Contexto histórico. A comunidade de Corinto: Paulo passou pelo menos dezoito meses em Corinto para aí anunciar o evangelho (At-18:1-8), de 50 a 52. Segundo alguns cálculos, sempre discutíveis, Corinto contava na época mais de meio milhão de habitantes, dois terços dos quais eram escravos. Destruída em 146 a.C. Reconstruída cem anos mais tarde em 44 por Júlio César, era uma cidade nova que devia sua prosperidade extraordinária à situação geográfica e aos dois portos: Cencréia, no mar Egeu (golfo Sarônico), o outro, Lequéia, no Adriático (golfo de Corinto).
            Ela possuía as características que distinguem em todas as épocas a vida dos grandes portos: população muito heterogênea (desigual, irregular) na qual todas as raças, todas as religiões convivem lado a lado; vida fácil de uns e pobreza de outros; multidão de escravos na labuta. Mas essa cidade cosmopolitana (um conjunto bem ordenado, um todo) era também um centro intelectual onde todas as correntes de idéias estavam representadas. No século II, um retórico podia felicitar Corinto pelo número de suas escolas, dos seus filósofos e dos seus letrados, com que se podia topar em cada esquina. Era igualmente um centro religioso onde os cultos do oriente exerciam indiscutível sedução, encontravam-se ali o santuário de Ísis, Serápis e Cibele, ao lado de templos consagrados a Júpiter e às divindades tradicionais. Quanto ao relaxamento dos costumes em Corinto, sem dúvida não era pior que o de todas as grandes cidades do mundo greco-romano.
            Por sua composição, a comunidade cristã reunida pela pregação de Paulo era o reflexo fiel da cidade. Havias ricos e havia pobres (11:21-22), mas os primeiros eram uma fraca minoria (1:26); o conjunto era composto de gente simples, de escravos (7:21), em resumo, de gente desprezada (1:28).
            Esses cristãos formavam uma comunidade animada e fervorosa, mas que ficava muito exposta aos perigos da corrupção da vida ambiente: moral sexual dissoluta (6:12-20), pendências, disputas e lutas (1:11-12; 6:1-11), sedução da sabedoria filosófica e origem pagã, que se introduzia na igreja revestida de um verniz cristão superficial (1:19-2:10), e que pervertia as certezas fundamentais da nova fé (1Co-15); atração também dos cultos secretos e das correntes de pensamento que se difundiriam no século II sob o nome genérico de “gnosticismo”, cujas manifestações desordenadas ameaçavam reproduzir-se na assembléias cristãs (12:1-2 e 14:26-38). A planta cristã era sadia e vigorosa, mas suas raízes mergulhavam em uma terra que não lhe era homogêneas. Situação anormal à qual o Espírito acudiu distribuindo com abundância os seus dons excepcionais (12-14) e que Paulo, em suas cartas, procurava modificar, fornecendo ao novo rebento o húmus cristão que lhe faltava.
            Daí provém o interesse desta carta. Ela nos mostra, quase como ao vivo, os problemas suscitados pela inserção da fé cristã numa cultura pagã e os meios empregados por Paulo para resolver esses problemas.
           
            Contexto literário. Circunstâncias que motivaram a carta: Façamos um breve apanhado da seqüência dos acontecimentos que medeiam entre a primeira pregação de Paulo em Corinto e o envio desta epístola aos Coríntios. Depois de sua partida, Paulo manteve o contato com a comunidade por ele formada. Sabemos por (5:9-13) que 1 aos Coríntios fora precedida por outra carta (chamada muitas vezes de carta pré-canônica), que não nos foi conservada; nela, Paulo tratava, entre outra coisas, das relações dos cristãos com os “devassos”. Esta carta, da qual certos estudiosos acreditaram reconhecer um fragmento em (2Co-6:14-7:1), provavelmente seguia-se a um bilhete dirigido pelos coríntios,  fazendo uma pergunta a qual Paulo respondera. Por outra parte, sabemos, graças ao relato dos Atos (At-18:24-28), que a comunidade de Corinto aconselhara um pregador cristão de valor na pessoa de Apolo, judeu de Alexandria, que aderira à nova fé e em Éfeso fora definitivamente convertido ao Cristo por Àquila e Priscila, e por eles munido de cartas de recomendação quando partiu para Corinto. Os Atos especificam que Apolo era eloqüente, versado nas escrituras, e que, em Corinto, foi de grande ajuda para a comunidade, particularmente nas controvérsias com os judeus. Provavelmente era muito mais brilhante do que Paulo, ao qual censuravam a falta de eloqüência (2Co-10:10). Concebe-se, portanto que se aja formado um partido, elegendo Apolo por mestre e erigindo-se em rival do grupo dos fiéis em que se diziam discípulos de Paulo (1:12).
           

Texto (1Co-11:17-34)
17Fazendo-vos essas advertências, não vos posso louvar a respeito de vossas assembléias que causam mais prejuízo que proveito.
18Em primeiro lugar, ouço dizer que, quando se reúne a vossa assembléia, há desarmonias entre vós. {E em parte eu acredito.
19É necessário que entre vós haja partidos para que possam manifestar-se os que são realmente virtuosos.}
20Desse modo, quando vos reunis, já não é para comer a ceia do Senhor,
21porquanto, mal vos pondes à mesa, cada um se apressa a tomar sua própria refeição; e enquanto uns têm fome, outros se fartam.
22Porventura não tendes casa onde comer e beber? Ou menosprezais a Igreja de Deus, e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Que vos direi? Devo louvar-vos? Não! Nisto não vos louvo...
23Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão
24e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim.
25Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim.
26Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha.
27Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor.
28Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice.
29Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação.
30Esta é a razão por que entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos.
31Se nos examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.
32Mas, sendo julgados pelo Senhor, ele nos castiga para não sermos condenados com o mundo.
33Portanto, irmãos meus, quando vos reunis para a ceia, esperai uns pelos outros.
34Se alguém tem fome, coma em casa. Assim vossas reuniões não vos atrairão a condenação. As demais coisas eu determinarei quando for ter convosco.[2]
           

                             As desordens durante a celebração da Ceia do Senhor:
            Aquilo que na igreja que se tornou culto, missa, ou a celebração eucarística (grego eukharistía, agradecimento, gratidão, ação de graças), no tempo de Paulo chamava-se Ceia do Senhor. Era realizada em casas particulares, visto que não existia ainda igreja-templo. Não se limitava a uma celebração ritual; o rito era integrado numa verdadeira refeição ao longo da qual o presidente da mesa abençoava o pão e o cálice, como o próprio Jesus fizera durante a ceia, na noite da quinta-feira santa. Contudo, em Corinto aparentemente as coisas não aconteciam como deveriam acontecer. Assim, escreve Paulo na primeira epístola aos coríntios: (ler v.17-21).
            Precipitação, egoísmo, voracidade, embriaguez... O que está então acontecendo? Como é possível haver tanta desordem numa comunidade recentemente conquistada para o evangelho? Neste campo, a documentação fornecida pela arqueologia é bastante iluminante. Ela permite conhecer melhor as condições materiais nas quais viviam as comunidades cristãs, deixando perceber que a simples organização material favorecia tais desvios: existem divisões, e ninguém espera o outro para refeição.
            Efetivamente, uma vez que as igrejas-templo não existiam ainda, as reuniões realizavam-se nas casas particulares pertencentes aos cristãos mais ricos, aqueles que possuíam habitações suficientemente grandes para acomodar algumas dezenas de pessoas. No entanto, o número de cristãos da cidade não se reduzia a algumas dezenas de pessoas; após três ou quatro anos, desde o início da evangelização, eles deviam contar pelo menos algumas centenas. Em outras palavras, falar de “a comunidade” de Corinto é uma concepção teórica, que não leva em conta a realidade; o singular não cabe aqui. É preciso falar de “as comunidades”, pois havia muitas: uma que se reunia na casa de fulano, outra que se reunia na casa de beltrano e assim por diante. No total, sem dúvida, uma dezena de lugares diferentes, situados em diversos bairros da cidade, o que não favorecia a unidade!
            Mas isso não é tudo. Reunir algumas dezenas de pessoas na própria casa significava não poder juntar todas no mesmo cômodo. Corinto, destruída pelos romanos em 146 a.C., fora reconstruída cem anos depois, em 44, graças a um edito de reconciliação concedido por Júlio César. As casas dos ilustres eram construídas à moda romana. As acomodações davam para um pátio central, parcialmente coberto, o atruim, do qual, uma parte do espaço era ocupada por um recipiente destinado a colher águas das chuvas. Apertando-se, umas quarenta pessoas podiam acomodar-se ali, sentadas sobre esteiras. Mas havia também uma sala de jantar, o triclinium, com oito ou nove banquetas sobre as quais se comia reclinado, à moda romana. O que acontecia pois nas reuniões comunitárias? Os costumes sociais dos coríntios não desapareceram do dia para noite pelo fato de se terem se convertido ao cristianismo. O proprietário da casa continuava a receber seus amigos cristãos na sala de jantar (triclinium), ao passo que os demais, menos afortunados, se amontoavam no atrium. A comida que ele oferecia era certamente melhor e mais abundante do que as provisões trazidas pelas pessoas de condições mais modestas. Ademais, dado que seus amigos eram funcionários ou grandes comerciantes, eles podiam chegar mais cedo, desde as três horas da tarde, hora costumeira para alguém convidado a um banquete. No atrium, ao contrário, os trabalhadores ou escravos chegavam somente quando haviam terminado o trabalho, ou seja, bem mais tarde.
            Agora se compreende bem melhor a descrição que Paulo faz da situação: existem divisões no grupo que se reúne na casa de fulano, não se espera o outro para a refeição, um passa fome enquanto o outro come e se embriaga. Que vai fazer o apóstolo para tentar endireitar a situação? Essencialmente, recordar a tradição da refeição do Senhor, ou seja, o relato da instituição da eucaristia tal qual era transmitido na igreja de Antioquia da Síria, aí mesmo onde ele havia aprendido. Isto nos rendeu um dos quatro relatos da instituição eucarística do Novo Testamento: (ler 1Co-11:23-25).
            E ele acrescenta seus próprios comentários que começam com: “Todas as vezes, pois, que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha” (1Co-11:26).
            Agindo assim, o que ele relembra a estas pessoas que vivem a Ceia do Senhor de modo anárquico, a estes que se deixam influenciar pelos costumes sociais com seus excessos e desequilíbrio? Substancialmente ele lhes explica: o que vocês celebram é coisa séria. Tem a ver com a morte, a morte do Senhor. Essa celebração faz-nos mergulhar no mistério pascal, ou seja, não é possível atingir a verdadeira vida senão mediante a morte. O corpo do Senhor, o pão eucarístico, é também o corpo que vocês formam, o corpo eclesial. Ora trata-se de um corpo crucificado, um corpo doado para os outros, por todos os outros. Não é questão de um simples corpo social que deveria ser preservado. Conseqüentemente, o modo como vocês celebram a Ceia do Senhor é indigno daquilo que vocês celebram. Vocês acham-se em completa incoerência entre suas práticas e suas convicções.
            Quais as lições, pois, que os coríntios deveriam tirar de tudo isso? E que lições podem aprender os cristãos de todos os tempos? Que não pode haver eucaristia sem partilha. Quando vocês estiverem em suas próprias casas, diz Paulo, façam como quiserem. Mas quando se reunirem para a Ceia do Senhor, “espere uns pelos outros” (1co-11:33). Não se lancem sobre a comida, não escolham os melhores pedaços.
            Podemos igualmente aprender que a vida cristã questiona certo número de reflexos sociais que se nos tornam praticamente naturais. Que há de mais natural do que levar os amigos para a sala de jantar, de comer e beber com eles, enquanto se espera que cheguem os demais? No entanto, Paulo não considera que isto seja digno de uma comunidade-igreja que é o corpo de Cristo. Num corpo, todos os membros são solidários; quando um membro sofre, sofrem todos os outros; isto é de tal importância que o apóstolo consagra quase todo o capítulo seguinte a este novo tema (1c0-12).
            Está claro que suas palavras questionam as comunidades cristãs, não importa de que época, sobre o modo como vivem as relações fraternais e sobre a maneira segundo a qual celebram os sacramentos. Apóstolo e pai dos coríntios, Paulo não pode tolerar a mediocridade daqueles que ele gerou para a fé. A reprimenda que ele lhes dirige ilustra sua solicitude pastoral. Em toda comunidade eclesial, é preciso que haja ministros que ajam em nome de Cristo, a fim de recordar aos fiéis as verdades essenciais e convidá-los a viver de maneira cada vez mais conforme ao Evangelho.

            Paulo o apóstolo da Kenosis (esvaziamento): (fl-2:1-8)
 1Se por estarmos em Cristo, nós temos alguma motivação, alguma exortação de amor, alguma comunhão no Espírito, alguma profunda afeição e compaixão,
2completem a minha alegria, tendo o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude.
3Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos.
4Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros.
5Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus,
6que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se;
7mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens.
8E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz![3]

            A teologia da kénosis:
            O Hino Cristológico de Fl-2:6-11 é chamado de Hino da Kénosis, de kenós, termo grego que significa “vazio”. Esse título, com o qual o poema ficou conhecido na história da teologia, foi derivado do verbo grego kenóo encontrado em Fl-2:7 e que significa “privar-se de poder” ou “abdicar do que possui”. Esse termo caracteriza toda a vida de Jesus, o Filho de Deus como alguém que não se apegou à sua condição divina e ao entrar nas esferas da história e da criação, assumiu as limitações desses âmbitos, até as últimas conseqüências, inclusive ficando à mercê do egoísmo e violência humana, que o levaram à morte terrível na cruz. A maioria dos estudiosos está de acordo que o Hino da Kénosis não é de autoria paulina, mas fazia partia da Liturgia Eucarística. Isso significa que uma das teologias mais profundas do Novo Testamento teve sua fonte num hino litúrgico para celebrar o mistério pascal. E, como o mesmo hino foi usado por Paulo como expressão de uma reta compreensão de Deus em seu mistério, isso manifesta que o mesmo poema retrata uma profunda experiência mística do Apóstolo. Finalmente, ao usar o hino como exortação aos filipenses significa que Paulo faz da teologia da kénosis o fundamento da práxis cristã configurada à práxis de Cristo.
            Depois de analisarmos todo o contexto a “santa ceia” fica sem sentido. Se Cristo se esvaziou ao ponto de quebrar-se para mostrar o amor de Deus e como vivermos em comunhão com Ele e nosso próximo e todas as vezes que fizéssemos isso anunciaríamos sua morte até que Ele venha fica a pergunta: por que nos reunimos para a ceia e fazemos acepção de pessoas e só anunciamos para quem já conhece Cristo? Excluindo quem mais precisa Dele, ou Ele não disse “não necessitam de médicos os sãos, mas, si, os doentes. Mt-9:12” e o pior excluímos alguns de nosso próprio meio por não estarem enquadrados na doutrina da igreja. Foi isso que Paulo fez em Corinto? Seria isto que Cristo faria hoje?
            Quando se lê 1Co-11:27-29
 27Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor.
28Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice.
29Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação.
            Paulo não está falando aqui de pecado, pois o examinar-se é pelo fato dos irmãos estarem comendo e deixando os outros com fome, examinem-se e veja se isso é correto? Pois Cristo morreu por todos e não por um grupo, se isso é lícito para vós estão comendo e bebendo para vossa própria condenação não discernindo o sacrifício de Cristo. Paulo está usando a ceia de Cristo para sarar a fome em corinto “que não era pequena” e para isso abre mão de paradigmas e aproveita a ocasião para apresentar Cristo. A ceia era só um pretexto, o que Paulo realmente deseja é apresentar Jesus o Messias, o que importava na verdade era mostrar o amor de Deus no partir do pão.
             A ceia é para os doentes, ou seja, pecadores que não conhecem a Cristo e nós temos que anunciá-lo para estes doentes espirituais. 
Paulo usando a Kenosis: (1Co-9:19-22); (At-17:15-34)
            Analise estes textos e veja o que Paulo faz para apresentar a salvação em Cristo e veja se a ceia é tão “SANTA” assim.


[1] Mario Marcos Andrade da Silva, Bacharel em Teologia pelo (ICEC), Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos. M. 10.1.509.Convalidação pela Faculdade Unida. Além de especialista em escatologia, angelologia e aconselhamento pastoral pelo IDE Missões. 

[2]  Texto da TEB (tradução ecumênica da Bíblia)
[3]  Texto da NVI (nova Versão Internacional)


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A Tentação de Jesus.


     Este texto foi um trabalho que apresentei no primeiro semestre do curso bacharel em teologia, nele tento quebrar alguns dogmas e misticismos a cerca da pessoa de Jesus. Tento mostrar um Jesus mais humano e não aquele super-homem que sai voando do deserto para o pináculo do templo juntamente com satanás. É um texto mais acadêmico, mais voltado para o estudo e pesquisa do que para meditação. Boa leitura.



INSTITUTO CRISTÃO DE ESTUDOS CONTEMPORÂNEOS
Evangelhos Sinóticos
Professor: Anderson de Oliveira Lima





EXEGESE DE MATEUS 4:1-11
A TENTAÇÃO DE JESUS
VIAGEMS ATRAVÉS DO ÊXTASE



Por

Mario Marcos Andrade da Silva
Matrícula 10.1.509

São Paulo
Junho/2010


 A tentação de Jesus (Mt-4:1-11)

         Perícope: A narrativa da tentação de Jesus no Evangelho de Mateus fica estabelecida no capítulo 4 dos versículos 1-11, pois no capítulo 3 e versículo 17 termina a narrativa do seu batismo, e no capítulo 4 versículo 12 se inicia com Jesus voltando para a Galiléia, após a prisão de João Batista.

         Traduções: RC (para estudo do texto)
                            NVI (para comparar os textos)
         Para o estudo final do texto e exposição do mesmo, usei o novo testamento interlinear, por ser mais fiel aos textos gregos.
         Equivalente sinótico: o texto o qual é o objeto de estudo se encontra nos três evangelhos sinóticos, sendo que Marcos é muito breve, pois dedica apenas dois versículos (Mc-1:12-13) e não especifica as três tentações relatadas por Mateus e Lucas. Para Mateus e Lucas, Jesus cumpriu sua missão mediante uma luta contínua contra “satanás” chamado “diabo” acrescentando as três tentações provavelmente tiradas da fonte “Q”.
         A maior diferença encontrada no texto de Mateus com relação a Lucas: é a troca da segunda pela terceira tentação. Mateus espiritualiza o texto mais do que Lucas, tirando Jesus do deserto e o colocando no pináculo do templo que é um ambiente religioso.
                                                                Texto (Mt-4:1-11)
A tentação de Jesus

         1 Então Jesus foi levado para o deserto por o Espírito para ser tentado por o diabo. 2 E tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, ao final teve fome. 3 E aproximando-se o tentador disse a ele: Se és filho de Deus, dize para que estas pedras se tornem pães . 4 Mas ele respondendo disse: Está escrito: Não de pão somente viverá o ser humano, mas de toda palavra saindo por (a) boca de Deus. 5 Então toma o diabo consigo a ele para a cidade santa e colocou a ele sobre o pináculo do templo, 6 e diz a ele: Se és filho de Deus , joga a ti mesmo abaixo; pois escrito está: Aos anjos dele ordenará a respeito de ti e em (as) mãos carregarão a ti, para que não batas contra pedra o teu pé. 7 Disse a ele Jesus: Também está escrito: Não tentarás (o) Senhor o teu Deus. 8 De novo toma o diabo consigo a ele para um monte muito alto e mostra a ele todos os reinos do mundo e a glória deles. 9 e disse a ele: Estas coisas todas a ti darei, se prostrando-te adorares a mim. 10 Então diz a ele Jesus: Vai embora, satanás; Pois escrito está: (O) Senhor teu Deus adorarás e a ele somente darás culto. 11 Então deixa a ele o diabo, e eis anjos se aproximaram e serviam a ele.


                                                        EXEGESE
         1- Então Jesus foi levado:
         [1] A expressão ser levado define um fenômeno transcendental, levado em espírito ou transportado em espírito, o verbo está sempre no passivo, indicando uma ação que vem de fora. A palavra “espírito” está relacionada a experiência espiritual, esta experiência é entendida simbolicamente como abandono do corpo por parte do espírito, nesse abandono, o visionário é transportado para fora da realidade humana, também como o seu corpo. Vejamos alguns exemplos: (Ez-37:1-2) Veio sobre mim a mão do Senhor; e o Senhor me levou em espírito, e me pôs no meio de um vale  que estava cheio de ossos, e me fez andar ao redor deles; e eis que eram mui numerosos sobre a face do vale e estavam sequíssimos.
         (Ap-1:10-11)  Eu fui arrebatado em espírito, no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta,  que dizia: O que vês, escreve-o num livro e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia.
         Em ambas as visões os visionários estão envolvidos tanto com o seu espírito quanto com o seu corpo, Ezequiel caminha sobre um vale de ossos e cita detalhes de sua visão “os ossos eram mui numerosos e estavam sequíssimos” ele fala, vê e ouve. João ouve uma voz e recebe ordens para aquilo que ele ver, ele escrever.
         A experiência de Jesus è real, enquanto seu espírito é levado para fora do seu corpo; Jesus experimenta a visão sendo levado em espírito, que como já vimos tem a ver com a dimensão espiritual de sua pessoa, mas Jesus é levado corporalmente por satanás, contempla todos os reinos do mundo, é levado corporalmente para Jerusalém, sendo colocado no ponto mais alto do templo. Não se trata somente de uma visão espiritual (levado em espírito), pois o corpo de Jesus está totalmente envolvido em seus sentidos: Tem fome, vê, fala, ouve e é transportado pra lá e para cá e trava uma batalha verdadeira com satanás. A impressão que se tem é a de uma experiência mística tão profunda e completa que até o corpo do visionário, e não apenas seu espírito, é envolvido. As duas dimensões, o êxtase espiritual (arrebatamento íntimo, admiração de coisas sobrenaturais) e transporte corporal, são elementos típicos da literatura apocalíptica, cujo caráter de revelação se dá geralmente pelo êxtase que possibilita a visão e o acesso às “coisas divinas”. É mais um elemento que confirma nossa intuição de considerar (Mt-4:1-11) como um relato de experiência visionária e extática (posto em êxtase).
         A experiência de Jesus é espiritual, por seu espírito está sendo levado e real quanto aos lugares que está indo, não que os lugares sejam físicos, são reais por serem locais existentes.
         Esta experiência de viagem espiritual é profunda, complexa e de difícil compreensão, que até quem experimentou não sabe definir direito, vejamos o que o apóstolo Paulo escreveu em (2Co-12:1-4)  Em verdade que não convém gloriar-me; mas passarei às visões e revelações do Senhor.  Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos (se no corpo, não sei; se fora do corpo, não sei; Deus o sabe), foi arrebatado até ao terceiro céu.  E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar.
         2- Para o deserto:
         Agora precisamos analisar alguns fatos; a tentação de Jesus se dá logo depois do seu batismo, no evangelho de Marcos (1:9) diz que Jesus indo de Nazaré da Galiléia. Foi batizado por João no rio Jordão, e o evangelho de João identifica esta região em que João batizava, sendo em Betânia (Jo-1:28) essas coisas aconteceram em Betânia, do outro lado do Jordão onde João estava batizando.
         Betânia, que quer dizer “casa dos pobres” uma aldeia na vertente oriental do monte das oliveiras, cerca de 2.700 m. quase 3 km. a oeste de Jerusalém, na estrada que liga Jerusalém a Jericó. Era em Betânia que se situava a casa dos irmãos, Lázaro, Marta e Maria. Na maioria das vezes que Jesus esteve naquela região hospedava-se na casa deles. (Mt-21:17), (Mc-11:1,11,12), (Lc-10:38), (Jo-11:1).
         Por estas referências e pelo contexto de que Jesus estava naquela região, acredito que depois do seu batismo Jesus foi para casa dos seus três amigos, se isolando em algum lugar da casa, ficando em jejum por quarenta dias, Jesus absteve-se de alimento, mas não de água. Abster-se de água por quarenta dias requer um milagre. Uma vez que Jesus teve que enfrentar a tentação, como representante do homem ele não podia empregar nenhum outro meio para vencê-la além do de um homem cheio do espírito Santo. Após os quarentas dias de jejum, entra em êxtase espiritual. Êxtase (arrebatamento íntimo, admiração de coisas sobrenaturais), ou seja, levado em espírito.
         Aqui há uma referência direta ao Êxodo, lugar de provações. Aqui o autor coloca Jesus na figura de Moisés que no deserto não conseguiu vencer a prova e que Jesus também foi para o deserto e lá foi provado, não quarenta anos, más quarenta dias e saiu vitorioso.
         O primeiro deserto a que Jesus é submetido é uma solidão interior, pois nem sempre o deserto se refere a um lugar geográfico, mas também a lugar desabitado, despovoado ou estar sozinho, nesta experiência Jesus é levado para fora do seu corpo, isso acontece numa situação de solidão interior, que em primeiro plano não deve ser entendida como ir para um lugar geográfico, mas sim como uma situação espiritual, após quarenta dias desse deserto (solidão interior) entra em êxtase espiritual e de dentro desse primeiro deserto faz uma viagem extática (posto em êxtase) o êxtase, a saída do corpo e a visão de Deus são simbolicamente expressos na estrutura literária da “viagem extática”. [2] Existem vários tipos de “viagens extáticas” sendo que as mais conhecidas, na literatura antiga, são a viagem ao céu, a descida ao inferno e a viagem pela terra. Vamos analisar as três, procurando elementos para entender a “estranha viagem” de Jesus no relato da tentação.  
2.1- Viagem ao céu: É a mais comum das viagens, sobretudo na literatura apocalíptica, nos capítulos 4 e 5 do livro do apocalipse encontramos alguns  elementos de viagem celestial. (Ap-4:2)  e logo fui arrebatado em espírito, e eis que um trono estava posto no céu, e um assentado sobre o trono.
         Segundo a tradição o apocalipse foi escrito pelo apóstolo João, quando este estava só na ilha de Patmos e enviou-o às sete igrejas na Ásia Menor (1:11), no capitulo 4, João é levado em espírito para o céu, nesta viagem é acompanhado por alguém, vê um trono, alguém assentado sobre este trono, tem a visão de anjos, do que vai acontecer, audição e revelação.
         Em comparação com o nosso objeto de estudo, (Mt-4:1-11) encontramos os seguintes elementos comuns: O êxtase, assim como João Jesus é levado em espírito, situação de solidão interior, Jesus também só que por um anjo decaído, o diabo,  a subida ao ponto mais alto ou ao céu, Mateus não faz referência a Jesus atravessando vários céus, mas sim a Jesus sendo levado ao ponto mais alto do templo e a um monte muito alto, de lá Jesus contempla não o trono de Deus mas o de satanás ou seja os reinos sobre os quais ele exerce sua autoridade e pelos quais ele pede para ser adorado.
2.2- Descida ao inferno: No evangelho de Bartolomeu (citado por Justino em 150 d.C) fala da descida de Jesus ao inferno com o objetivo de tirar dali Adão e todos os que com ele se encontravam e de acorrentar o diabo, Quando ias no caminho da cruz, eu te segui de longe. E te vi a ti, dependurado no lenho, e os anjos que, descendo dos céus, te adoraram. Ao sobrevirem as trevas e eu estava a tudo contemplando. Eu vi como desapareceste da cruz e só pude ouvir os lamentos e  o ranger de dentes que se produziram subitamente das entranhas da terra. Dize-me, Senhor, onde fostes depois da cruz? Jesus então respondeu desta forma: Feliz de ti,Bartolomeu, meu amado, porque te foi dado contemplar este mistério. Agora podes perguntar-me qualquer coisa que a ti ocorra, porque tudo dar-te-ei eu a conhecer. Quando desapareci da cruz, desci aos infernos para dali tirar Adão e a todos que com ele se encontravam, cedendo às súplicas do anjo Gabriel
         No novo testamento vemos isso em (Ef-4:8-10) pelo que diz subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens. Ora, isto ele subiu que é, senão que também, antes, tenha descido as partes mais baixas da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as ciosas. Ainda temos (Rm-10:6-7), (1Pe-3:18-20), (1Pe-4:6).
2.3- Viagem pela terra: Na literatura judaica antiga a viagem pele terra por um agente celestial não era novidade, no livro de Enoque temos o seguinte relato: (1En-17) “Eles levantaram-me a um certo lugar, onde lá havia a aparência de um fogo fervente; e quando eles se agradaram assumiram a semelhança de homens. Eles levaram-me a um alto lugar, a uma montanha, cujo topo alcançava o céu. E eu vi os receptáculos da luz e do trovão nas extremidades do lugar, onde ele era profundo. Havia um arco de fogo, e flechas em seu vibrar, uma espada de fogo, e toda espécie de relâmpagos.
         Então eles levaram-me a um arroio murmurante, e a um fogo no oeste, o qual recebeu todo pôr-do-sol. Eu vim a um rio de fogo o qual fluiu como água e desaguou no grande mar para o oeste. Eu vi todo largo rio, até que cheguei a grande escuridão. Eu fui para onde toda carne migra; e vi as montanhas da escuridão as quais constituem o inverno, e o lugar do qual flui a água em cada abismo. Eu vi também as bocas de todos os rios do mundo e as bocas das profundezas.3 No testamento de Abraão, documento redigido talvez no Egito entre o I e o II século d.C, encontramos o relato de uma longa viagem de Abraão pela terra. Deus manda o arcanjo Miguel falar com Abraão sobre sua morte para que ele dê disposição sobre suas posses. E Abraão faz um pedido a Deus, por intermédio de Miguel: Enquanto estou ainda neste corpo, gostaria de ver todo mundo habitado e todas as coisas criadas, que tu estabelecestes, Senhor, através de uma palavra e depois de ter visto essas coisas, eu deixo  a vida sem tristeza” (9,6). Então Miguel pega Abraão em um carro de querubins e o levou pelo ar do céu e o conduziu numa nuvem, onde estavam outros 60 anjos.

      3- A viagem de Jesus:
         Analisando a viagem de Jesus na tentação, notamos que ele não sobe ao céu nem desce ao inferno, é uma viagem pela terra que mistura elementos da viagem celestial e da descida ao inferno, ele é levado a três lugares diferentes e reais, de dentro do seu primeiro deserto (solidão interior) ele parte através do êxtase espiritual (em espírito) para o segundo deserto, agora lugar físico, este deserto é normalmente identificado como o deserto da Judéia que se estende para oeste de Jerusalém em direção ao mar morto e ao rio Jordão, a tradição popular identificou sempre este lugar como a morada do diabo.
3.1- As três tentações:
a) A tentação de transformar pedras em pães:
 (v.3) E aproximando-se o tentador disse a ele: se és filho de Deus, dize para que estas pedras se tornem pães.
  (v.4) Mas ele respondendo disse: está escrito: não de pão somente viverá o ser humano, mas de toda palavra saindo por (a) boca de Deus.
         [3]Transformar pedras em pães era reconhecido como o sinal dos últimos tempos que o messias poderia realizar. Este seria o grande sinal revelador de sua identidade e o colocaria na tradição dos grandes profetas do passado: de Moisés que deu maná para o povo no deserto (Ex-16), de Elias (1Rs-17), de Eliseu (2Rs-4); do pão de graça que, com vinho e leite, são a promessa para os últimos tempos (Is-55:1-2).
         Quando Jesus recusa transformar pedras em pães, na realidade ele está também afirmando que sua comida é diferente, pois um ser divino nunca comeria pão como os homens, não comer pão ou comida terrena é típico de seres celestes e também dos homens que tem experiências extáticas. Abraão, viajando em companhia do anjo Javel até o trono de Deus declara: (Ap.Abr-12-1) “Assim nós partimos e juntos permanecemos durante quarenta dias e quarenta noites. Não comi pão, nem bebi água, porque o meu alimento era contemplar o anjo que estava comigo e a minha bebida era a sua palavra”.
         Jesus cita (Dt-8:3), que é a tentação do povo no deserto, aqui também há uma alusão a (Gn- 3:1-5) onde a serpente identificada como satanás faz a tentação a Eva, que por sua vez cedeu, fazendo ceder também Adão, que não olharam para o que saiu da boca de Deus em (Gn-2:17) “ mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”.
         Mateus escreveu seu evangelho para os judeus e apoiando-se na revelação, promessas e profecias do A.T, tenta provar que Jesus era o Messias, é como se ele estivesse dizendo: olha o povo da promessa liderado por Moisés foi levado ao deserto para ser tentado e sucumbiu, mas Jesus foi levado para o deserto e venceu, olha o primeiro Adão foi tentado a comer e comeu, mas Jesus o segundo Adão venceu e não comeu.
         Aqui Jesus foi tentado pelo diabo, no sentido de usar o seu poder para proveito próprio: transformar pedras em pães no momento de intensa fome, o objetivo de satanás era produzir na mente de Jesus, que aquelas pedras, se ele quisesse se tornariam em pães, e assim estaria obedecendo a uma ordem direta de satanás. O ataque de satanás foi exatamente em uma área carente de Jesus naquele momento. O tentador não tem a intenção de expor Jesus e destruir sua reputação desta maneira. Suas intenções são bem definidas e deliberadas. Seu objetivo vai em outra direção. Seu objetivo preciso é incitar Jesus a provar que de fato é o filho de Deus, mas por quê? Que vantagem ele, o diabo, teria com isso? Na verdade seria ele, o diabo, que determinaria as ações de Jesus, seria ele quem teria, na verdade, o poder, seria em seu nome e para sua glória que os milagres seriam feitos. 
b) A tentação no pináculo do templo:
(v.5) Então toma o diabo consigo a ele para a cidade santa e colocou a ele sobre o pináculo do templo,
(v.6) e diz a ele: Se és filho de Deus, joga a ti mesmo abaixo; pois escrito está: Aos anjos dele ordenará a respeito de ti e em (as) mãos carregarão a ti, para que não batas contra pedra o teu pé.
         A relativação do corpo físico no ser transportado pelo céu, passando, num piscar de olhos, de uma situação física para outra, ficaria impossível se Jesus estivesse realmente com seu corpo físico no deserto da Judéia. Depois de vencida a primeira tentação, o diabo transporta Jesus em espírito pelos céus e o leva para o templo de Jerusalém. Ficar na ponta do templo de Jerusalém é uma ação tipicamente messiânica, pois se acreditava que quando o messias chegasse se colocaria no lugar mais alto do templo, (Ml-3:1).
         A palavra do diabo tem o intuito de apresentar muita piedade, ele toma medidas baseado na existência divina. Pois, agora, o que está em jogo não é a honra do filho de Deus, mas a honra do próprio Deus: ”Aos anjos dele ordenará a respeito de ti” (v.6). O poder de Deus será respeitado, o que significa (de acordo com a lógica do tentador) que será permitido “operar” e esta obra deve ser “expressa”. Mas aqui não está em jogo apenas a importância soberana do próprio Deus, o Deus cuja honra o tentador parece atribuir tanta importância. Ele vai além e reitera sua pergunta com as próprias palavras de Deus: “está escrito” (Sl-91:11-12).
         Jesus, para refutar o diabo, diz: Também está escrito: Não tentarás (o) Senhor o teu Deus. (v.7ª). Jesus faz uma alusão à (Ex-17:1-7) que na jornada pelo deserto de Sim, o povo contende com Moisés pela falta de água, onde deram o nome daquele lugar Massá e Meribá, (tentação e contenda) por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao Senhor, dizendo: Está o Senhor no meio de nós, ou não? (v.7). Pelo que isso também se refere ao problema de não colocar pão acima da palavra. (Mt-6:25-34).
c) A tentação dos reinos do mundo:
(v.8) De novo toma o diabo consigo a ele para um monte muito alto e mostra a ele todos os reinos do mundo e a glória deles.
(v.9) E disse a ele: Estas coisas todas a ti darei, se prostrando-te adorares a mim.
         Jesus é transportado mais uma vez como num piscar de olhos, o cenário agora é uma montanha, cujo nome não é identificado, a partir da qual podia ver todos os reinos do mundo. A visão do mundo materialmente é impossível, pois não existe montanha tão alta que possibilite uma abrangência universal. Algo semelhante aconteceu com o apóstolo João (Ap-21:10).
         Nesta tentação, satanás tem o objetivo de vencer Jesus pela visão, astutamente de um monte alto, onde a visibilidade é maior, descortina diante dos olhos de Jesus, os reinos do mundo e a glória deles, o que satanás oferece a Jesus não é nada material ou físico, mas sim, transigência, poder terreno, artifícios políticos, violência, domínio, popularidade, honra e glória humana. Esta estratégia é muito antiga, começou lá no Éden (Gn-3:6). Ló foi seduzido pela visão da campina do Jordão e fracassou (Gn-13:10-11). No sermão do monte, Mateus escreve que a lâmpada do corpo é o olho e que se o olho for bom, todo corpo será iluminado. No monte, como Moisés, pode-se controlar o povo.
         Encontramos aqui uma visão “terrestre” do trono celeste: o diabo se declara senhor dos reinos da terra habitada, propõe toda esta glória a Jesus, mas exige em troca, culto e adoração, nesta tentação o diabo revela o seu maior desejo, ser adorado por Jesus. O verbo adorara do nosso texto bíblico em pauta: “estas coisas todas a ti darei, se prostrando-te adorares a mim”. (v.9) é “proskuneo” (grego), que dá a idéia de curvar-se a tal ponto de beijar os pés, Jesus responde dizendo a ele, que este tipo de adoração, somente Deus é digno de receber, que o único Senhor é Deus tanto no céu como na terra e só a ele se presta culto, (v.10). Podemos interpretar que por trás da afirmação de Jesus, “está escrito: o Senhor teu Deus adorarás e a ele somente darás culto”, tenha uma ordem explícita para o diabo voltar a sua real condição angelical dependente e a serviço do Altíssimo e não opositor e adversário dele.
         Antes da tentação em (Mt-3:17b) está escrito: “Este é o meu Filho amado”. É o próprio Deus que reconhece Jesus. (Só espere reconhecimento de Deus). As duas primeiras tentações o diabo usa as condicionais “Se tu és o Filho de Deus,” satanás baseado no fato de que Jesus é o Filho de Deus.  Nas condicionais “se tu..” o tentador não leva isso em consideração. Ele está bem preparado para reconhecer que Jesus é o Filho de Deus, tem duvidas apenas das razões táticas para desempenhar alguns milagres. O diabo não apenas está sendo grosseiro como procura ridicularizar o Senhor ou rir dele porque falha em operar milagre.
         O que o diabo quer dizer por Deus e Filho de Deus não é Deus absolutamente, mas um fantoche a quem o diabo faz encaixar em seus propósitos, e pode fazê-lo dançar pular, operar o milagre do pão, pular do pináculo do templo. Este deus não é o Senhor do diabo, mas seu escravo. O diabo o usa a fim de depositar as grandes questões da vida em sua conta pessoal.

         4- Paralelismo:
(v.3a) E, chagando-se a ele o tentador,
(v.11a) Então, o diabo o deixou;
         No começo da tentação se aproxima satanás, neste momento é manifesto o reino das trevas, Jesus é tentado, torturado psicologicamente e depois de todo este processo ele vence. Derrotado, o diabo retirou-se e Jesus foi servido pelos anjos, neste momento é manifesto o reino de Deus.
         Analisando este texto pude entender melhor (Tg-4:7) “Sujeitai-vos, pois a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.”

 CONCLUSÃO
        
         Quando Jesus disse e fez tudo isso contra o diabo, “então o diabo o deixou, e os anjos o serviram.”
         Que conclusão para esta hora! E o reino dos céus e do inferno inclusos neste momento! Cristo foi “tentado como nós” esta é a maravilha desta hora. Pois porque ele foi tentado, tem compaixão das nossas fraquezas, temos um irmão quando o perigo mais ameaçador da vida se aproxima. Agora, não existe mais solidão
         Sim, existe outra maravilha em tudo isso: ”ele foi tentado em tudo, como nós, porém sem pecado”.
         Será que conseguimos entender o que isso significa?
         Desde o princípio sabemos como Jesus havia sido levado ao deserto, sozinho, para ser tentado, e não obviamente, para participar de um mundo de oportunidades pecaminosas e sedutoras. Esta foi a dica que recebemos quanto ao significado da tentação; pois já estudamos que o segredo da tentação é a tentabilidade do homem. Este segredo é pertinente ao próprio homem, não fora dele, não, por exemplo, nas oportunidades pecaminosas. O abismo está inserido, mesmo se ele o evitar milhares de vezes. Ele é tentado a roubar porque é um ladrão, mesmo se ele não rouba de fato. É tentado a matar porque é um assassino, apesar do fato de nunca ter matado ninguém.
         E assim, a possibilidade de sermos tentados a mentir, roubar, adulterar, nos prova que somos criaturas mentirosas. Não podemos mudar esta constituição fundamental da vida mesmo que lutemos pela verdade e contra cada mentira em cada nervo do corpo e na alma. A tentação à mentira continua; o abismo em nós clama; o pecado ali está à espera do desejo implacável. Esta é a pavorosa e inspiradora lição da tentação. “Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo sujeito a esta morte?” (Rm-7:24).



[1] SCHIAVO, Luigi. Orácula São Bernardo do Campo, v.1, n.1 p.4, 2005.
[2] SCHIAVO, Luigi. Orácula São Bernardo do Campo, v.1, n.1 p.8, 2005
[3] SCHIAVO, Luigi. Orácula São Bernardo do Campo, v.1, n.1 p.38, 2005


Apresentação

Apresentação

     Quero através deste blog compartilhar conhecimento e buscar respostas (não prontas) mas repensadas acerca de fé, Deus e religião. Sou Presbítero da Assembléia de Deus Brás, estou terminando o curso de Bacharel em Teologia no (ICEC) Instituto Cristão de estudos contemporâneos, Convalidado pela Faculdade Unida.
     Desde muito pequeno, fui e sou muito questionador e critico, e simplesmente não me satisfaz apenas ouvir e aceitar o que dizem, sempre há um por que a ser respondido, sempre haverá uma pergunta a ser feita, e já não me sastifazem respostas prontas que pastores sempre tem na ponta da língua e que sempre não satisfazem nossas espectativas. Prefiro repensar, analisar e tentar entender um pouquinho mais desse Deus maravilhoso que se nos apresenta em carne, o nosso amado Cristo.
     Depois que comecei a fazer teologia perdi amigos, admiradores e prestígio, pois já não pregava aquilo que eles estavam acostumados e me ver pregar, pois agora pregava um Deus relacional, um Deus que ama acima de tudo e que faz desse amor a forma de se apresentar a nós, um Deus que sofre pelo meu pecado e não que quer me matar por causa dele. Mas ganhei novos amigos, aqueles que como eu não aceita a mesmice e letargia que se abateu na igreja.
     Não me chame de herege, mas perdi a fé. Perdi a fé em um Deus que só realiza “o milagre” se eu tiver fé, perdi a fé em um Deus que só ouve “os escolhidos”, perdi a fé em um Deus que a qualquer deslize meu quer me fulminar, perdi a fé em um Deus que faz acepção de pessoas, ou não pregamos: “Então vereis outra vez a diferença entre o que serve a Deus e o que não serve”? Esta diferença está no meu agir não no tanto que serei beneficiado. Desculpem-me pelo desabafo, mas ganhei uma nova fé, fé em um Deus que celebra a vida, que me ama e que independe do que eu faça para me amar. Se você não acredita assim me faça um favor a você mesmo, "não continue a leitura" pois te fará ter comichão nos ouvidos, mas se acredita assim continue e deixe a sua mente ser liberta de verdade, não como a igreja ou melhor dizendo a religião faz, "conhecereis a verdade e a verdade vos liberterá" (Jesus liberta a igreja oprime). O que de verdade esse texto de Jo-8:32 quer dizer de verdade? Isso ficará para uma próxima postagem. Até mais.